FÉ: A DIFERENÇA
PR. ALEJANDRO BULLÓN
"Ele começou sua vida rastejando e pedindo esmolas. Cresceu e viveu assim durante muito tempo. Mas algo aconteceu num momento de sua vida, porque no fim dela o achamos entrando no templo por seus próprios pés, louvando o nome de Deus. O que aconteceu com esse homem? Qual o mistério de sua transformação?
Observe esse texto: "E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona. E era trazido um varão que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam... (Atos 3:1 e 2).
Há duas partes marcantes na vida deste homem: ele começa paralítico, incapaz de
realizar qualquer coisa, rastejando como uma serpente, arrastando seu corpo morto. Olhando para as alturas, mas sentindo-se incapaz de chegar lá. Um começo muito triste... pedia esmolas e vivia da caridade das pessoas. Mas a última parte de sua vida é um capítulo glorioso. Ele entra no templo andando com seus próprios pés, cantando e louvando o nome de Deus.
Vamos imaginar duas ilhas. Uma delas representa o primeiro capítulo da vida deste homem: miséria, desgraça, tragédia, incapacidade, impotência e pobreza.
A outra representa o segundo capítulo: um homem andando com seus próprios pés, com a cabeça levantada, entrando no templo, louvando e cantando hinos para Deus.
Entre essas duas ilhas há um mar, um mar que todos temos que atravessar um dia.
Vamos analisar o texto bíblico. Ele começa dizendo: "E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração..." (Atos 3:1)
Pedro era um homem intrépido, prático, realista, enquanto João era um sonhador, idealista e romântico. Duas personalidades diferentes, indo ao templo para adorar juntos. O Espírito de Deus tinha sido capaz de unir dois corações diferentes e fazê-los louvar em unidade de espírito. Essa é uma das vantagens do cristianismo.
Aqui está o primeiro pensamento que apresenta o texto: o plano de Deus não é uniformizar seus filhos. Ele não quer que os cristãos se tornem um grupo de soldadinhos de chumbo, todos uniformizados, agindo da mesma maneira, fazendo as mesmas coisas, andando do mesmo jeito, falando as mesmas palavras. Não, o cristianismo não destrói a personalidade de ninguém. Jesus respeita a individualidade dos seres humanos. Cristo quer unidade, mas dentro dela, diversidade de dons, de talentos, de personalidades, de culturas, de usos e de costumes.
Você é carpinteiro? Há um lugar para você na família de Deus. É um estadista? Um pedreiro? Um homem prático e realizador? Um idealista e sonhador? Há também um lugar para você na família de Deus.
Meu amigo, não existe ninguém que não tenha recebido pelo menos um talento de Deus. E você pode colocar esse talento a serviço de sua família, da sociedade, de seu país, da humanidade e da igreja de Deus nesta terra.
Pedro e João subiam juntos ao templo para orar. Eram companheiros de oração. Quando Pedro se dirigia ao templo, passava na casa de João e dizia:
- João, estou indo ao templo. Você não quer vir comigo?
Aqui encontramos outra lição do texto: procure um companheiro de oração. Busque um irmão, um amigo e ore com ele. Se em seu carro há lugar para mais um, convide alguém que não tem carro e more perto de sua casa para ir ao templo com você. Deus está nos apresentando aqui a responsabilidade que temos de cuidar uns dos outros na vida espiritual. Não somos ilhas, não devemos tentar viver uma maravilhosa experiência espiritual com Cristo do tipo: Ele, eu e mais ninguém. Devo me preocupar em levar João, Felipe e Maria comigo.
A história bíblica continua dizendo que quando Pedro e João estavam entrando na porta do Templo encontraram um homem que tinha nascido e vivido paralítico toda a sua vida. Não havia esperança de recuperação para ele. A ciência médica não tinha remédio para seu caso. Ninguém podia fazer mais nada. Era um homem de aproximadamente 40 anos. Devia ter feito tudo para se recuperar, mas as suas esperanças morreram lentamente. E naquele tempo a sociedade não se preocupava em criar facilidades para os deficientes físicos. Não existiam oportunidades de trabalho para eles e em conseqüência, aquele homem só poderia dedicar-se a pedir esmolas.
Mas parece que este homem era muito inteligente. Ele não ia pedir esmolas lá na rua do centro da cidade, ele ia ao templo. Sabe por quê? No centro da cidade seguramente ele encontraria uma quantidade bem maior de pessoas, mas ele supunha que se existiam pessoas sensíveis às necessidades humanas, deviam ser as que entravam num templo. E ele não estava errado.
Se nós, que nos chamamos cristãos, não formos capazes de sentir dor pelas pessoas que sofrem, quem o será? Se nós cristãos não formos capazes de nos organizar para tentar ajudar as autoridades a resolver o problema do sofrimento, da miséria, da fome, das crianças de rua, quem o fará? Podemos louvar o nome de Deus em sã consciência sem prestar atenção à mão estendida de um necessitado?
O coxo de nossa história colocou-se na porta do templo, e estendeu a mão. Esperava uma moeda. Ele pensava que sua grande necessidade era dinheiro, por isso estendia a mão para pedir esmolas.
Nós, seres humanos, nem sempre sabemos identificar nossas verdadeiras necessidades. O ser humano do século 20 sabe que alguma coisa está faltando dentro de seu coração. Há um vazio existencial que está enlouquecendo o homem moderno. O homem deita à noite na cama e sente vontade de chorar, não consegue dormir, porque experimenta dentro de si uma angústia muito grande. Uma espécie de complexo de culpa, como se estivesse devendo alguma coisa a alguém. Constantemente se pergunta: "O que acontece comigo? Não mato, não roubo, não adultero, não faço nada de mau, respeito meus próximos, sou um bom cidadão, um bom pai de família, um bom marido... por que sinto este vazio? Por que sinto medo do futuro? Por que às vezes me dá vontade de chorar, de buscar alguma coisa que nem sequer sei identificar o que é?"
Os psicólogos chamam isso de crise existencial. O ser humano sabe que lhe falta alguma coisa, o problema é que não sabe identificar o quê. Então ele estende a mão, como este coxo, tentando agarrar coisas.
Há pessoas hoje que, como o coxo, pensam que o que lhes falta é dinheiro. "Se eu pudesse ter todo o dinheiro do mundo", pensam, "poderia comprar uma casa boa, viajar por outros países e ser muito feliz". Mas isto não é verdade. O dinheiro é útil, sim, e você não deve sentir-se culpado por ganhar dinheiro trabalhando honestamente. Não pense que para ser um bom cristão você precisa ser pobre.
Muito cuidado com o conceito de cristianismo, que o leva a pensar não ser necessário se preocupar com dinheiro porque ele não vale nada. Cristianismo não é pobreza. Cristianismo é prosperidade. Não tenha medo de lutar para crescer na vida.
Aquele mendigo levantou a mão esperando receber dinheiro. Se o discípulo lhe desse uma moeda, seguramente esse paralítico louvaria o nome de Deus e diria:
- Senhor, te agradeço pelas bênçãos que me deste.
Mas Pedro sabia que não era de dinheiro que o paralítico precisava. Seu verdadeiro problema era outro.
Talvez você esteja esperando que Deus o cure daquele câncer que está devorando a sua vida. Mas vou dizer algo que vai contra tudo o que muitos cristãos estão pregando hoje. "Se você tiver fé", é o que dizem, "você será curado". "Se hoje estiver desempregado e tiver fé, amanhã conseguirá emprego". Se você carrega um câncer e vier esta noite aqui, será curado", é o que afirmam. Mas o que a Bíblia ensina?
Paulo foi um dia a Deus e lhe disse:
- Senhor, tira este aguilhão da minha carne.
Ele carregava um problema de saúde na sua vida e pediu que o Senhor o curasse, mas sabe qual é a resposta que recebeu de Deus? "... A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza..." (II Coríntios 12:9).
Paulo teve que carregar aquela doença toda a sua vida. E por favor, não me diga que ele não tinha fé. Isso prova que a fé não serve somente para que as coisas aconteçam como você quer. A fé serve para que os milagres aconteçam do jeito que Deus quer.
As irmãs de Lázaro mandaram, um dia, emissários a Jesus dizendo: "Vem e cura nosso irmão". Mas Jesus demorou e Lázaro morreu. Dias depois Ele apareceu na casa de Marta e Maria e não trazia apenas uma cura, trazia uma ressurreição, porque o que Deus tem para nós sempre é melhor do que nós esperamos.
O mendigo de nossa história levantou a mão pedindo apenas dinheiro, mas Deus tinha para ele uma cura.
Lembra de Jairo? Ele pediu apenas uma cura para sua filha, mas Deus tinha para ela uma ressurreição. A minha pergunta é: Você está pedindo algo a Deus? Tem a impressão de que Ele não está respondendo sua oração? Por favor, não pense que Deus deixou de amá-lo. Não tenha um conceito tão minúsculo de Deus. Não pense que porque as coisas não estão saindo do jeito que você quer, Ele se esqueceu de você. A fé não é somente para que as coisas sejam como você quer. A fé é para que as coisas aconteçam como Deus, em sua infinita sabedoria, sabe que devem acontecer. E o que Deus faz, embora você no início não compreenda, sempre é o melhor pra você.
Quando Pedro disse ao paralítico que não tinha ouro nem prata, seguramente o deficiente ficou desanimado, mas cinco segundos depois entendeu o que estava pedindo. Descobriu que era muito pouco o que pedia. Deus tinha algo melhor para ele.
Meu amigo, você, de alguma maneira, se sente um paralítico na vida espiritual? Faz muito tempo que você carrega na vida uma sensação de vazio? Faz muito tempo que você estende a mão atrás do dinheiro, do poder, da fama, da glória, da cultura ou do prazer tentando de alguma maneira preencher o vazio de seu coração? É preciso saber que você saiu das mãos do Criador e nunca será feliz enquanto não retornar a Ele. No dia em que você se encontrar com Jesus e abrir o coração dizendo: "Senhor Jesus, eu preciso de Ti; não compreendo, não entendo muita coisa, mas preciso de Ti. Não creio, não tenho capacidade de crer, mas preciso de Ti. Opera, por favor, um milagre em minha vida, ajuda-me a crer." Nesse dia o Senhor Jesus vai operar um milagre; entrará em sua vida e transformará tudo.
Há muitos anos atrás eu era pastor numa favela muito perigosa. Se um dia vocês forem a Lima, capital de meu país, perguntem onde fica o morro São Pedro. É uma favela perigosa. Lá habita muita gente boa, mas também é um ninho de marginais e traficantes de drogas. Quando a polícia entra, tem que ir em grupo para se proteger.
No primeiro ano de meu ministério fui pastor ali. Um dia, enquanto estava descendo aquela favela, dois rapazes me agarraram. Um deles botou uma faca em meu peito e o outro segurou meus braços. Tiraram meu dinheiro, o relógio e a caneta que tinha. Eu tremia. Pedi a eles, que por favor, não me fizessem nada.
Deus tocou o coração daqueles marginais porque eles tiraram tudo de mim, mas não me fizeram mal. Fiquei paralisado quando eles fugiram, fiquei tremendo. Mas continuei meu trabalho naquele lugar. Em pouco tempo deveria começar uma campanha evangelística. Deveria pregar 90 noites seguidas.
Na primeira noite vi entre o público um rapaz que olhava insistentemente para mim. Cada vez que olhava para ele, ele olhava para o outro lado. Estava sempre olhando para mim, mas escondido. Quando eu olhava pra ele, se abaixava. O rosto dele ficou marcado por este detalhe.
Na noite seguinte ele não voltou. A outra noite também não. Mas eu comecei a visitar aqueles lares e foi assim que, um dia, cheguei na casa daquele rapaz. Quando ele me viu se escondeu. Sua mãe veio à porta e disse:
- Ele não está.
Eu disse:
- Senhora, eu acabo de vê-lo. Chame-o. Eu sou o pastor que está pregando aqui no salão.
E ele saiu, mal encarado. Estava sem camisa, cheio de tatuagens e cicatrizes. Olhou para mim e disse:
- O que você quer?
- Estamos com saudades de você, - respondi - você não voltou mais ao nosso salão.
Começamos a conversar e de repente fiquei paralisado porque esse rapaz me confessou que ele era um daqueles que colocara a faca em meu peito e me tirara o relógio e o dinheiro. Depois ele acrescentou:
- Pensei que você tinha me reconhecido na primeira noite que eu estive no salão.
Falei:
- Não, quando você me assaltou estava escuro e eu não reconheci você, mas agora que está confessando que me roubou, cadê meu dinheiro, meu relógio?
Ele olhou para mim e disse:
- Eu não tenho mais nada.
Retruquei:
- Mas você tem que me devolver.
Ele ficou em silêncio, e eu disse:
- Vamos fazer um trato. Vou pregar 90 noites seguidas. Se você assistir todas as noites, até o fim da campanha, a dívida está paga. Agora, se você não assistir, tem que me devolver tudo.
Foi assim que ele começou a aparecer no salão. Às vezes, aparecia na metade, às vezes no fim. Ficava lá atrás, fazendo questão que eu olhasse pra ele como dizendo: "Olha, estou aqui, estou pagando minha dívida". Ele não mostrava interesse no evangelho. Mas querido amigo, quer saber de algo? Você pode fugir de Deus um dia, dois dias, uma ou duas semanas, pode fugir de Deus um ano, dois, cinco anos, mas você não pode fugir de Deus a vida toda. Um dia Ele o alcança. Um dia, quando você não tiver mais pra onde ir, quando chegar um momento em sua vida que você não souber mais o que fazer, quando sentir que precisa dEle, naquele dia, pode cair de joelhos e Ele estará pronto para abraçar você. Sempre é assim. Jesus ama você e em silêncio segue e persegue todos os seus caminhos, até que um dia você Lhe entrega a vida.
E um dia Deus pegou aquele rapaz. Sua vida cheia de marginalidade, violência e vícios foi inteiramente transformada. Parou de roubar, de usar drogas e começou a trabalhar honestamente.
Então entendi que há muita gente neste mundo esperando uma oportunidade de nós. Tem gente que vive como vive e é o que é porque, nunca, ninguém lhe estendeu a mão. Quando alguém deu uma oportunidade a Jorge Roberto, ele se agarrou a ela e saiu dessa vida. E quando chegou dezembro eu tive a alegria de levá-lo até o tanque do batismo e ele foi batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Um ano depois, eu fui levado para a Amazônia de meu país, para trabalhar como, entre os índios da tribo Campa. Quando voltei de férias os irmãos me deram a notícia:
- Seu amigo Jorge Roberto está morto.
- O que aconteceu com ele?
- Um sábado de manhã, naquele morro, depois do culto, ele estava na rua despedindo-se dos irmãos, quando três ex-capangas, numa operação de queima de arquivo, deram sete facadas nele. Ninguém foi capaz de fazer nada. Tudo foi tão rápido! Jorge Roberto caiu. O sangue começou a brotar de seu corpo, de diferentes lugares. Os irmãos correram para socorrê-lo, mas ele disse: "Não, não me toquem. Eu acho que vou morrer". Os irmãos colocaram o corpo dele num carro e o levaram para o primeiro hospital. O diácono que estava segurando a cabeça dele no colo me contou que antes de chegar ao hospital ele disse: "Faça um favor pra mim? "Pois não, Jorge." "Procure o pastor Bullón e fale para ele que a gente se encontra lá no Céu, quando Cristo voltar".
Querido amigo, um dia eu terei a alegria de rever Jorge Roberto. Mas eu pergunto: Se Deus foi capaz de transformar aquela vida, não será capaz de transformar a sua? Que pode haver em seu coração que Deus não possa transformar?
Você está esperando receber uma bênção? Deus tem algo maior pra você. Mas você precisa dar o grande salto da fé; precisa abrir o coração a Jesus, precisa dizer: "Oh Senhor, não posso mais continuar desse jeito. Levanta-me da paralisia espiritual. Preciso experimentar uma nova vida, conhecer novos valores, ter novos ideais."
ORAÇÃO
Obrigado, Pai querido, porque podes chegar até mim, mesmo eu estando perdido nos valores mesquinhos de minha visão humana das coisas; obrigado porque podes transformar-me com amor e mostrar-me a perspectiva de uma vida sem fim. Amém.
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